O blog Poderosas Gordinhas é uma revista eletrônica com conteúdo diversificado sobre Moda, Beleza, Saúde, Comportamento, Opinião, Autoestima, Sexo, Mercado de Trabalho, e outros temas. Um espaço exclusivo para divulgar o talento, beleza e versatilidade das mulheres consideradas fora do "padrão de beleza" ditado pela moda e imposto pela sociedade e mesmo assim, são fantásticas, de bem com a vida e com seu corpo.

O não pecado da comilança

Por indicação da nossa amiga e leitora Cris Carrera, conheci Xico Sá, jornalista e escritor, autor do livro Modos de Macho & Modinhas de Femea, entre outros títulos.

Ele escreveu um texto sobre comilança que gostei tanto que resolvi partilhar com vocês, com a total autorização de Xico, é claro. Um ótimo texto para vocês meninas e também para os rapazes que acompanham o blog.



PARA TIRAR A CULPA DA COMILANÇA
da série Modos de Macho

O medo da fêmea diante da balança. Sim, você, amigo, sai com a pequena e ela só belisca, qual um passarinho, uns saudáveis farelos ou engole umas folhinhas sem graça. Que desgosto. Você caprichou na escolha do restaurante, acordou com água na boca por um prato que só você sabe onde encontrá-lo, quer fazer uma presença, fazer bonito com a cria da sua costela. 

 Que desgosto, a gazela mira o ambiente com “nojinho”, de tão fresca. Uma estraga-prazeres, eclipse de um belo sabadão ensolarado. 

 Ah, nada mais bonito do que uma mulher que come bem, com gosto, paladar nas alturas, lindamente derramada sobre um prato de comida, comida com sustança. Os olhinhos brilham, a prosa desliza entre a língua, os dentes, sonhos, o céu da boca. Ela toma uma caipirinha, a gente desce mais uma, sábado à tarde, nossa doce vida, nossos planos, mesmo na velha medida do possível. 

Pior é que não é mais tão fácil assim encontrar esse tipo de criatura. Como ficou chato esse mundo em que a maioria das mulheres não come mais com gosto, talher firme entre os dedos finos, mãos feitas sob medida para um banquete nada platônico.

 Época chata essa. As mulheres não comem mais, ou, no mínimo, dão um trabalho desgraçado para engolir, na nossa companhia, alguma folhinha pálida de alface. E haja saladinha sem gosto, e dá-lhe rúcula!

A gente não sabe mais o que vem a ser o prazer de observar a amada degustando, quase de forma desesperada, um cozido, uma moqueca, uma feijoada completa, uma galinha à cabidela, massa, um chambaril, um sarapatel, um cuscuz marroquino/nordestino, um cabrito, um ossobuco, um bife à milanesa, um tutu na decência, mocotó, um baião de dois, uma costela no bafo, abafa o caso!

Foi embora aquela felicidade demonstrada por Clark Gable no filme ''Os Desajustados'', quando ele observa, morto de feliz, Marilyn Monroe devorando um prato de operário. E elogia a atitude da moça, loa bem merecida.

Além do prazer de vê-las comendo, pesquisas recentes mostram que as mulheres com taxas baixíssimas de colesterol costumam ser mais nervosas, dão mais trabalho em casa ou na rua, barraco à vista, intermináveis discussões de relação... Nada mais oportuno para convencê-las a voltar a comer, reiniciá-las nesse crime perfeito.

Moças de todas as geografias afetivas e gastronômicas, aos acarajés, às fogazzas, aos pastéis, aos cabritos assados e cozidos, ao  sanduíche de mortadela, à dobradinha à moda do Porto, ao lombo -de lamber os lábios!-, ao churrasco de domingo para orgulho do cunhado que capricha na carne e sabe a arte de gelar uma cerva. E aquela fava, meu Deus, com charque, enquanto derrete a manteiga de garrafa, último tango do agreste.

O importante é reabrir o apetite das moças, pois, repito, senhoras e senhores, o velhíssimo mantra: homem que é homem não sabe sequer -nem procura saber- a diferença entre estria e celulite.

Sem culpa, meninas!
  

Xico, agradeço  a gentileza de ceder este texto para o blog. Saiba que ganhou aqui mais uma fã, se é que serei a única.

Beijos da gorda!




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